27.3.10

Mulheres independentes

Sempre escrevemos aqui sobre a dificuldade de mulheres independentes de manterem um relacionamento. Percebi que falamos muito dos relacionamentos mas não traçamos efetivamente o que é uma mulher independente. Se estivéssemos na década de 60 e 70 as mulheres independentes seriam aquelas que conquistaram seu lugar no mercado de trabalho, sua autonomia sexual ( a maior vitória  conseguida neste mundo masculino), mas estamos na primeira década de um novo século. De um século onde as mulheres naturalmente  trabalham fora e onde ninguém mais as critica por suas liberdade sexual...mas estranhamente, ela  ainda é  duramente criticada por sua liberdade intelectual. As mulheres independentes do início do século XXI se depararam com um novo tipo de questão a ser trabalhada. A liberdade intelectual. É claro que vão aparecer alguns ditos " sabedores de tudo " e falaram:  "Claro que a mulher tem liberdade intelectual"..."elas falam e escrevem sobre tudo"...será? Será que realmente conseguimos a independência intelectual ou esta dita independência  está atrelada a outros fatores atenuantes?
Sempre quando vemos uma mulher com grande capacidade intelectual, que dedica grande parte do seu tempo aos seus estudos e não a sua beleza estética, logo vemos a nossa sociedade que diz não ser machista rotula-la como "sem homem"  "sapatão " ( o termo é pejorativo e além disso, tem gente que acha que é errado ter outra opção sexual ) .
Quando vemos aquela mulher firme que tem essa firmeza nas palavras , nas suas lutas , nas suas convicções a rotulamos de "maluca", ou "estressadinha" ...mas quando vemos um homem na mesma situação ele é considerado o cara que tem ideal, que tem coragem! Quantas vezes estas vão ouvir de familiares e de amigas que seria bom mudar um pouco o seu jeito para conseguir um relacionamento...Que tipo de liberdade é essa que a pessoa é aconselhada a deixar de ser quem é para ser permitida a ter um relacionamento? Além disso, ainda temos aquelas pessoas que não possuem a menor autonomia de idéias se rotulando como independentes...e de uma certa forma atrapalhando a aceitação social da verdadeira independente. Chamo de verdadeira independente aquelas que tem a  plena liberdade do pensar. Sem se preocupar com o nível do choque que os outros vão ter com suas idéias. Pois automaticamente uma mulher que tem liberdade de pensar, acaba tendo sua autonomia na vida profissional e sexual.  E estranhamente, as vezes tenho a impressão que  essa liberdade de idéias está se perdendo.
Cada vez é mais difícil descobrir novas pensadoras, novas questionadoras....ando vendo as pessoas dando conselhos  dignos da década de 50... Alguns questionamentos importantes para as mulheres sendo discutidos por homens...será um retrocesso?
E nestes questionamentos todos lembrei de uma situação. Uma vez numa aula de geografia a uns 15 anos atrás um professor meu disse que  a nossa tão conquistada autonomia profissional foi uma necessidade do sistema capitalista...na época achei o cúmulo ouvir isso e um desrespeito. Mas hoje, anos depois e pensando bem tenho minhas dúvidas sobre o nível de verdade dessa afirmação.Mas se isso realmente for um fato,  será que o sistema capitalista não está mais precisando  dessa enorme autonomia feminina? E com isso, aparece um outro questionamento maior,  será que se realmente fôssemos independentes intelectualmente o sistema teria esse poder de mudança das nossas verdadeiras vontades e necessidades?

19.3.10

Sentimentos

Porque será que temos tanta dificuldade em lidar com os sentimentos? Porque temos tanto medo de sofrer, de ser alegre... Em nossa sociedade contemporânea, é quase que proibido  sentir. Somos quase que obrigados a ser diariamente eufóricos e quando não estamos em estado pleno de euforia somos obrigados a disfarçar. É como se tivéssemos que fingir quase que o tempo todo que tristezas não existem, e nos momentos de tristeza, temos que nos isolar para que os outros não se sintam incomodados com o fato de alguém assumir que não existe perfeição. Sim, quando buscamos a euforia diária estamos sim buscando uma perfeição que não existe. Não conheci ninguém que tenha aprendido algo em momento de felicidade ou calmaria, as melhores histórias de amor sempre são tristes e confusas ( as que mais dão ibope são as que morrem alguém no final rs ) e na verdade, as grandes lições da vida vem depois de muita " porrada". O mais engraçado,  é ver o desespero das outras pessoas... não com a sua tristeza mas com o que ela trás. As pessoas se sentem incomodadas com o fato daquilo existir e de que a qualquer momento pode ocorrer com elas. Que sua pseudo perfeição possa ser  incomodada. quando o sentir tristeza é normal.
Vemos constantemente casais felizes e alegres, quase em uma felicidade fotográfica. Vemos sorrisos duros como se pousassem eternamente para fotos, sorrisos vazios e ocos. Nos penduramos em pessoas com tanto medo de ficar sozinho que percebemos que  estamos sofrendo muito mais por estar com alguém que não gostamos...e perdemos as grandes sortes,  pq estamos com alguém ao lado só para fingir para o mundo que está tudo bem. Mas fingir para que? Pq esta necessidade absurda de que as pessoas achem que estamos felizes, pq nos torturamos muitas vezes em relacionamentos falidos para que os outros não descubram que você não é feliz? Passamos boa parte de nossa existência na total aparência, na aparência de felicidade. E talvez nunca encontraremos esta se ficarmos fingindo eternamente  que está tudo bem . É só observarmos quantos dos que nossos amigos já perderam a magia dos relacionamentos a algum tempo? quantos de nossos amigos começam relacionamentos pelo simples medo de ficar sozinho...ou achando que uma nova pessoa pode resolver os problemas. E as nossas individualidades, será que ninguém pensa que são estes momentos confusos que fazem agente parar para pensar no quanto  ele é importante, o quanto estamos deixando de viver nosso processo de catarse? Será que não percebemos que muito das grandes decisões ou das melhores  criações não foram feitas em momentos de euforia, pois é na crise que repensamos o todo?
essa idéia de felicidade eterna não existe...e é bom não existir! pq uma vez na vida temos que nos permitir a catarse!

11.3.10

Esteriótipos

1.3.10

Boa moça e Bom moço 2 rs

Bom pessoal, eu recebi algumas críticas por ter escrito sobre a boa moça. Como se fosse uma atitude pessoal. É incrível que o falar de coisas óbvias, mas muitas vezes não ditas causa um incomodo enorme. Na verdade a questão que foi abordada aqui , da  "boa moça" pode perfeitamente ser utilizada no  aspecto masculino no " bom moço".
Enquanto eu estava pensando nessas críticas comecei a falar sobre isso com uma ex aluna e agora estudante de filosofia ( maior orgulho rs) e percebi que a verdadeira  crítica construída a estes pseudos modelos sociais,  está no fato de que são pessoas que passam a sua existência inteira sem promover grandes questionamento sobre o mundo. São aquelas pessoas pseudo felizes, pseudo comedidas. Com seus empregos razoáveis , sua rotina comum...Um pessoa questionadora já enlouqueceria com esta frase " empregos razoáveis e rotina comum"...como assim?  Como pessoas podem passar toda a sua vida vivendo dentro de esquemas pré programados, com regras que passam longe de serem éticas. Estas, que  são na verdade regras puramente moralistas...Onde no primeiro embate com o diferente,ao invés de persistir na busca por conhecer o novo, a pessoa  acaba por  recuar, para voltar a sua falsa calmaria e fingir que aquele momento nunca existiu. Pensando nisso, quando questionamos  a preferência masculina pela pseudo boa moça, questionamos no fundo a preferência pelo que não trará surpresas...pelo que não compete...pelo que não assusta...pelo que não ira desafiar a calmaria de um rotina construída para " nunca " dar problemas.  Algumas pessoas preferem viver, passar a sua existência inteira nesse estágio. E da mesma forma que não querem se deparar com o diferente no relacionamento, não admitem debates profundos sobre problemas sociais. São aquelas pessoas que permitiram o nível de violência no mundo, o nível de exclusão social. Que  fecham os olhos para os problemas de todo um grupo social , para não correr o risco de ter que resolve-los. (Uma boa metáfora sobre esta questão está no próprio filme " distrito 9")  O relacionamento que tende cultivar esse modelo de   boa moça ou bom moço é apenas uma pequenina parcela do nosso comportamento com o todo social. Onde muitos fazem de tudo para continuar a viver em uma bolha ....
 Ainda bem que existem aqueles que sentem  a necessidade de questionamento, de viver em plenitude, caso contrário, ainda estaríamos na idade da pedra, principalmente no sentido do pensamento humano.
Quando agente fala desse modelo de comportamento, no fundo é um alerta, pq foram tantas lutas para conseguir pelo menos a aceitação mínima da independência, que não podemos fechar os olhos para este surto de moralismo que tem tomado conta da nossa sociedade neste momento de crise do pensamento pós moderno. nunca podemos deixar de questionar, mesmo as coisas mais banais...pois esta aparente banalidade muitas vezes é a representação  de idéias que já deveriam estar enterradas na humanidade.