10.6.12

parasita e hospedeiro


Estamos próximos ao dia dos namorados...uma data comercial que me irrita profundamente..mas não por ser comercial, mas por pregar velhos conceitos que me dão frio na espinha. Sempre quando vai chegando esse dia me sinto de volta ao século XVIII...Onde a mulher só era reconhecida socialmente por ter um homem ao lado. Em um estalo de dedos, a única forma de uma mulher ser feliz é a de estar com alguém...ser de alguém. Não é o fato de dividir a vida, os anseios, as esperanças e os sonhos de forma igualitária..e sim, o fato de ter alguém, de ser propriedade de alguém. Mesmo que isso signifique abrir mão do que é.
A mulher desde que nasce é criada com a ilusão de que a única forma de alcançar a felicidade plena é estando em um relacionamento a dois. E que ela deve fazer todos os sacrifícios para se manter este relacionamento. E  consequentemente, fazer uma “linda tatuagem" de eterno sorriso no rosto ...O sorriso das conceções ,o sorriso de que todo sacrifício vale a pena...será?
A mulher( a boa mulher ,claro )deve aceitar a traição para manter o amor...ela deve ser superior, e passar por cima dessas coisas pois o “amor é mais forte”... Quem nunca ouviu isso? Quem nunca vivenciou isso..uma ideia assustadora, pois se me ensinaram desde a infância que o amor é respeito pq devemos aceitar a traição se esta já é uma demonstração de falta de respeito? E pq só o homem pode trair e ser perdoado socialmente enquanto a mulher se tornara a "vadia má"( perdão pelo linguajar)... É claro, que temos uma forte contra argumentação masculina... “ mas isso é da característica do homem ..é instinto!” agora educação machista virou  instinto...( a ciência sempre se reenventando).
Nesse mesmo caminho, vemos constantemente  a ideia de que a  mulher deve abrir mão de seus sonhos para ajudar o seu amado a conquistar seus objetivos individuais...apesar de que, a ideia de amor que me venderam é que as construções de sonhos devem ser uma só.. no final das contas, acaba sendo o sonho de um e o desaparecimento do outro ..e com o tempo, vem a frustração, a raiva e a tristeza feminina. É o fim do conto de fadas..Seria tão fácil se as relações de fato fossem companheirismo sem cobrança..mas para isso, é necessário respeito, se colocar no lugar do outro, entender as angústias do outro..e em uma sociedade egoísta não existe estímulo a pensar assim..e os que pensam são marginalizados.
Outro dia ouvi ao contar uma história a pérola das pérolas:“ meu deus que dedo podre!” (de um homem..obvio!)...simplesmente pq eu não conseguia admitir a falta de respeito da outra parte. Me dei conta, que aquelas mulheres que não admitem tamanho desrespeito são as que recebem o título de portadoras do “ dedo podre” . Não é que elas escolhem mal...mas é o fato de não aceitarem a falta de respeito, a falta de companheirismo..ou pelo simples fato de reclamarem  já são rotuladas...( pode reclamar não..canto do castigo!)
Olhe para o lado..os pseudos relacionamentos felizes de hoje em dia são felizes pq existe um projeto em comum ou pq alguém abriu mão de seus sonhos e vontades..será que alguém aceitou sofrer? Ou será que aquele relacionamento tão inspirador dura pq a mulher optou por ser o eterno sorriso escondendo seus medos, sua personalidade, seus sonhos..Será, que aquele lindo casamento que passou por tudo ainda está de pé pq a mulher perdoou inúmeras traições em nome da família?
É nesses momentos, que entendo perfeitamente aqueles que optaram por ficar sozinhos. Eles não são egoístas, ao contrário..são pessoas que escolheram não entrar nessa corrida maluca onde a felicidade esta no outro...são pessoas que perceberam que a verdadeira felicidade esta dentro de si. E se um dia aparecer alguém ótimo..se não o mundo não terminará...são pessoas que não admitem que sua liberdade seja limitada e que também não querem limitar a liberdade do outro.
As relações do jeito que estão se tornam limitações contínuas do ir e vir, do pensar alheio. Onde se patrulha, se domina até os pensamentos do outro para não permitir que por um momento a pessoa “ conquistada” deixe de pensar em você...E ainda ouvimos em pleno século XXI, que determinadas pessoas não servem para se relacionar..só pq ousaram assumir o seu direito a liberdade...
Que necessidade tão grande é essa do ser humano de domínar o outro em cativeiro para que ele seja sua extensão? Para que ele deixe de ser?
E é  nesse processo, que nada tem de construção real, que quando acaba o fanatismo do pseudo amor, a pessoa se vê destruída..acabada ...deixa de ser...pq sua existência se tornou o outro e você precisa do outro como um parasita precisa da arvore para sobreviver...isso  não é amor. É necessidade de existência..pode observar...a maioria das pessoas que estão se sentindo vazias é pq não tem alguém..e justificam essa vazieis com esse argumento..quando encontram alguém, continuaram vazias mas com a doce ilusão de que outro ira suprir todas as suas necessidades..
E a sociedade é tão cruel e perversa, que aqueles que acreditam na liberdade, nas relações não parasitárias são as pessoas mais usados nas relações a dois...são aqueles que “ não servem” para algo sério...pq simplesmente não aceitam ser parasitas ou hospedeiros...
hoje mais do que nunca sei pq a minha heroína é Elizabeth de Orgulho e preconceito...não é pq ela ficou com o Darcy..mas pq ela o rejeitou no momento que a declaração de amor dele não era de companheirismo, de admiração, mas sim, de humilhação,por amar uma mulher que pensava por sua própria cabeça..e de difícil dominação..ela jamais seria parasita e hospedeiro.