3.12.12

Aventuras...


Hoje me deparei com uma pergunta, daquelas que me fazem refletir. Foi uma daquelas perguntas bobas, sem muito sentido  “você tem tido aventuras”. Uma pergunta comum, visto que o ser humano tem uma necessidade incessante de se aventurar. Percebi que choquei quando demonstrei a não necessidade de aventuras. É engraçado como o ser humano necessita da adrenalina das paixões para se sentir vivo... Mas tenho a impressão que essa necessidade contínua de euforia, paixão e aventuras é uma eterna fuga de si mesmo... é claro que é importante se aventurar...Mas será que não percebemos que a maior aventura é entender e ter o prazer da rotina? A capacidade de deslumbramento do dia a dia, do se apaixonar continuamente pelo outro e por lugares... A capacidade de entender que viver a rotina da vida é o grande desafio dela.

Quando dizemos que odiamos a rotina, na verdade, temos um medo absurdo do silêncio e da tranquilidade que ela nos trás... Porque essa tranquilidade, é uma tranquilidade aparente e superficial... Porque com o tempo ela nos da à possibilidade de olhar o mundo de verdade, nos obriga a conviver com o mundo e principalmente, nos obriga a conviver com nos mesmos...sentimentos e sensações inimagináveis começam a aparecer...e consequentemente o desespero de ter de lidar com eles. 
 Passamos a vida buscando paixões, necessitando de êxtases constantes, viver na embriagues dos sonhos. Porque a realidade é dolorosa. Mas a realidade se torna dolorosa porque não encaramos nossos medos e monstros internos. Soterramos nossos problemas, nossas vontades, nossos medos em covas rasas... E penduramos uma mascara sorridente tão forte que dói quando precisamos tirar. E o grande problema das covas rasas é que a qualquer momento, nossos fantasmas podem sair e voltar a nos perturbar...

O viver a vida é conseguir viver o cotidiano, é conseguir se deslumbrar com os dias, e conseguir verbalizar o que pensa e principalmente  conseguir ouvir o que o outro tem a dizer... Porque infelizmente não estamos preparados para a escuta. Nos fechamos em nossas ideias, em nossos castelos perfeitos e não permitimos que o outro entre nele;

Boa parte das relações que conhecemos é carregada de ressentimentos e olhares para o horizonte. Aquele olhar perdido e sem brilho. Quantas vezes ao olharmos aquele casal feliz percebemos a frieza em olhos que já perderam a paixão há muito tempo. Quantas vezes perseguimos o objeto amado porque no fundo não confiamos em nós mesmos... Não acreditamos em nós... Quantas vezes cortamos pessoas de nossas relações porque elas ousaram falar... E nos obrigaram a ouvir... Algo que do que fugimos em nossas aventuras.

Às vezes nossas aventuras são fugas eternas de nós mesmos, uma necessidade enlouquecedora de se desconhecer... Porque a angustia só vai aparecer no silêncio, na tranquilidade... É só quando paramos que o tsunami de emoções pode aflorar em nós... Mas temos medo... Um medo constante de demonstrar o que somos, um medo constante de viver.

Nossas aventuras no fundo não fazem a gente viver, não nos fazem vencer o medo... É uma fuga constante de nossa existência... Passamos pela vida correndo em constante euforia, nos agarramos a pessoas quando estamos prestes a cair no abismo... Fugimos dos medos, do que nos afligem... Dos nossos pesadelos e sonhos... E vamos passando uma pseudo vida.

 Experimente ficar um dia inteiro, só, em silêncio... É o suficiente para descobrirmos que não temos a menor noção do que somos... E se não sabemos quem somo s como podemos entender o outro?
Tenho percebido que de fato o maior desafio que existe é o de viver a rotina, de forma pura... Sem subterfúgios, sem remédios sem paixões eufóricas. Apenas vive-la... Aceitando suas dores, seus amores, seu tedio e suas angustias. Porque viver é isso... E tem maior aventura do que tentar viver de forma plena?