Hoje me deparei com uma pergunta,
daquelas que me fazem refletir. Foi uma daquelas perguntas bobas, sem muito
sentido “você tem tido aventuras”. Uma pergunta comum, visto que o ser humano tem uma necessidade incessante de se aventurar. Percebi que choquei quando demonstrei a
não necessidade de aventuras. É engraçado como o ser humano necessita da
adrenalina das paixões para se sentir vivo... Mas tenho a impressão que essa
necessidade contínua de euforia, paixão e aventuras é uma eterna fuga de si mesmo...
é claro que é importante se aventurar...Mas será que não percebemos que a maior
aventura é entender e ter o prazer da rotina? A capacidade de deslumbramento do
dia a dia, do se apaixonar continuamente pelo outro e por lugares... A
capacidade de entender que viver a rotina da vida é o grande desafio dela.
Quando dizemos que odiamos a rotina,
na verdade, temos um medo absurdo do silêncio e da tranquilidade que ela nos
trás... Porque essa tranquilidade, é uma tranquilidade aparente e superficial...
Porque com o tempo ela nos da à possibilidade de olhar o mundo de verdade, nos
obriga a conviver com o mundo e principalmente, nos obriga a conviver com nos
mesmos...sentimentos e sensações inimagináveis começam a aparecer...e consequentemente o desespero de ter de lidar com eles.
Passamos a vida buscando paixões, necessitando de êxtases constantes,
viver na embriagues dos sonhos. Porque a realidade é dolorosa. Mas a realidade
se torna dolorosa porque não encaramos nossos medos e monstros internos. Soterramos
nossos problemas, nossas vontades, nossos medos em covas rasas... E penduramos
uma mascara sorridente tão forte que dói quando precisamos tirar. E o grande
problema das covas rasas é que a qualquer momento, nossos fantasmas podem sair
e voltar a nos perturbar...
O viver a vida é conseguir viver
o cotidiano, é conseguir se deslumbrar com os dias, e conseguir verbalizar o
que pensa e principalmente conseguir ouvir o que o outro tem a dizer... Porque
infelizmente não estamos preparados para a escuta. Nos fechamos em nossas
ideias, em nossos castelos perfeitos e não permitimos que o outro entre nele;
Boa parte das relações que
conhecemos é carregada de ressentimentos e olhares para o horizonte. Aquele
olhar perdido e sem brilho. Quantas vezes ao olharmos aquele casal feliz
percebemos a frieza em olhos que já perderam a paixão há muito tempo. Quantas
vezes perseguimos o objeto amado porque no fundo não confiamos em nós mesmos...
Não acreditamos em nós... Quantas vezes cortamos pessoas de nossas relações porque
elas ousaram falar... E nos obrigaram a ouvir... Algo que do que fugimos em
nossas aventuras.
Às vezes nossas aventuras são
fugas eternas de nós mesmos, uma necessidade enlouquecedora de se
desconhecer... Porque a angustia só vai aparecer no silêncio, na tranquilidade...
É só quando paramos que o tsunami de emoções pode aflorar em nós... Mas temos
medo... Um medo constante de demonstrar o que somos, um medo constante de viver.
Nossas aventuras no fundo não
fazem a gente viver, não nos fazem vencer o medo... É uma fuga constante de
nossa existência... Passamos pela vida correndo em constante euforia, nos
agarramos a pessoas quando estamos prestes a cair no abismo... Fugimos dos
medos, do que nos afligem... Dos nossos pesadelos e sonhos... E vamos passando
uma pseudo vida.
Experimente ficar um dia inteiro, só, em
silêncio... É o suficiente para descobrirmos que não temos a menor noção do que
somos... E se não sabemos quem somo s como podemos entender o outro?
Tenho percebido que de fato o maior desafio que
existe é o de viver a rotina, de forma pura... Sem subterfúgios, sem remédios
sem paixões eufóricas. Apenas vive-la... Aceitando suas dores, seus amores, seu
tedio e suas angustias. Porque viver é isso... E tem maior aventura do que tentar viver de forma plena?
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