23.11.12

e preciso desconstruir



Às vezes queria entender porque é tão difícil reproduzirmos nossas belas teorias sobre relacionamento na vida prática. Falamos tanto de mudança de paradigmas, onde se busca numa relação um grau de igualdade... Mas nas primeiras chances de possibilidade de um relacionamento realmente igualitário, acabamos por reproduzir uma postura até machista ou pelo menos um tanto antiquada. Tenho a impressão às vezes que a nossa educação machista está tão enraizada, tão dentro de nosso subconsciente que é justamente nestes momentos cruciais que ela aparece. E mesmo que a gente perceba tal situação, é como se se travássemos uma guerra interna entre o certo, efetivamente certo que nos leva a uma felicidade real, pelo certo social dentro da mente humana. É só se apaixonar por qualquer situação que saia da dita normalidade social... Além de guerrear contra uma sociedade que não permite mudanças nem questionamentos, a pessoa deve travar uma guerra interna... O que normalmente não faz... Porque dá trabalho, porque esgota... porque enlouquece. Os conflitos interiores são muito piores dos que os externos... Acredito que muitas vezes as pessoas não enfrentam a sociedade porque simplesmente antes tem de enfrentar a si mesmo... Quando se está bem resolvido com tais questões... A sociedade é mole. Mas se desafiar, quebrar estereótipos construídos desde a mais tenra infância? Ousar a fazer um processo de desconstrução interna? Até que ponto a sanidade humana consegue isso...
Acho que muito dos nossos medos não são sociais, mas sim deste processo de desconstrução... É claro que tais enraizamentos foram colocados no ser humano pela sociedade... Mas foi um processo longo... Porque desde que o ser humano nasce o atolamos de conceitos de como ele deve viver... Como ele deve amar.  Porque o amar não implica necessariamente o amar no sentido relação de duas pessoas... Mas o saber amar nos faz ter uma visão ampla do mundo... E é o que leva as grandes transformações...  E o que o fazer quando o amar não se encaixa nas caixas criadas pelo sistema na nossa consciência? O que fazer quando o sentimento não entra em tais caixas... A primeira tentativa é mudar o outro... Mudar o outro para que ele possa entrar nas caixas... E consequentemente acabamos por matar o amor, o deslumbramento, a admiração... Porque o que despertou o amor foi exatamente o fato dele não poder entrar nas caixas...
O ser humano deveria constantemente passar por uma processo de desconstrução e construção. Mas isso é doloroso, da medo e o que vemos é que quando a vida nos coloca numa situação dessa a nossa tendência é fugir...fugimos dos amores complicados, dos amores não controláveis, fugimos daqueles que são impetuosos e ousam seguir seus sonhos. E nos apegamos àqueles que vão nos dar calmaria e paz... Como se amor pudesse ser calmaria e paz... Fugimos daqueles que não se encaixam no estereótipo de príncipe encantado ou de princesa submissa... E mesmo nas relações homo afetivas acabamos por procurar os mesmos estereótipos...
Acho que a sociedade faz um trabalho constante de nos fazer acreditar que o normal não é mais normal... Amamos as histórias de amor com mocinhas impetuosas e questionadoras... Amamos os revolucionários que mudaram o mundo... Mas de fato será que ficaríamos com a mocinha que vai te questionar e discutir o tempo todo? Que vai a cada discussão de ideia te provocar a ponto de não existir hierarquia.  Ou preferimos no intimo aquela que não vai jamais demonstrar mais conhecimento ou bater de frente... Amamos os homens corajosos e revolucionários... Mas de fato será que aceitaríamos viver na inconstância de alguém que prefere mudar o mundo a ter a estabilidade do dinheiro no banco no início do mês...
Será que amamos mesmo, ou apenas criamos a ilusão do amor já que em nossa sociedade você só é feliz se ama e possui o objeto amado... Porque até nossa noção de amor passa muito longe da liberdade dos livros... É mais um processo de escravidão e dominação do objeto amado... E amor é angustia e liberdade



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