20.2.10

tête-à-tête

Se existe um casal que para mim é um exemplo de relacionamento nos moldes que agente efetivamente acredita. Onde a liberdade individual não é cerceada e o relacionamento não é baseado em estereótipos machistas, este Casal se chama Simone e Sartre. Somos tão pequenos quando analisamos as relações deles, que nossas análises já são permeadas de pré conceitos. Sempre vemos Simone como um apêndice de Sartre quando na verdade, ela não só tinha total independência filosófica, como foi a sustentação de Sartre. 
Um vez, conversando com uma colega da mesma área eu ouvi a seguinte frase " pena que ela ficou na mão daquele homem.."essa simples frase já tem o preconceito e o moralismo que tanto questionamos. Nós reduzimos os sentimentos e o outro as nossas necessidades pequenas de uma sociedade de consumo. Confundimos amor com posse, companheirismo com castração. confundimos relacionamento com falta de liberdade. Procuramos no outro algo igual pq o diferente da medo. Pois, uma pessoa que pensa diferente balança a nossa postura das certezas absolutas que enfrentamos na vida, tira o nosso conforto e ao invés de aprendermos com estas sensações fugimos...para algo calmo. Mas o que vale a calma no pensamento humano? Já imaginou dois mil anos de calma? O que move o homem, o pensamento humano, são as paixões, o novo , o inesperado.  
Não existiria um pensamento existencialista de Sartre sem Simone. Não existiria o homem que foi contra sua nação na guerra da Argélia, tendo seu apartamento incendiado sem Simone. como também não existiria a Simone questionadora do papel da mulher numa sociedade opressora sem Sartre. Mesmo não casados, vivendo de uma forma errante de acordo com alguns moralistas, cada traço de sentimento era demonstrado em detalhes, como o famoso " para Castor" que está em todos os livros de Sartre. Castor era o apelido de Simone...esse é o verdadeiro amor, esse é o verdadeiro relacionamento. Onde a mulher não precisou deixar de ser. Não precisou se transformar numa " boa moça" ou em alguém aceita pela sociedade para viver. Pode parecer bobagem mas quando aceitamos pensamentos que já deveriam estar enterrados, quando proclamamos estereótipos que deveriam ter sido deixados no no meio do século passado, na verdade, estamos limitando a liberdade do outro. O que as pessoas muitas vezes não entendem é que tal liberdade cerceada não é só com o outro no relacionamento amoroso. É na sua relação com o mundo, com estruturas de governo, com a possibilidade do pensamento. Quanto mais aceitamos o comum, mais difícil vai ser promover uma mudança efetiva numa sociedade. A questão é muito maior. Os relacionamentos são apenas " amostras grátis" da nossa relação com o todo.
 É por isso, que eu adoro este casal.  Pq eles demonstram que estamos todos errados quando assumimos o cômodo. Quando pouco a pouco deixamos de fazer o que gostamos, deixamos os amigos, deixamos a carreira...e acabamos por deixar de ser ser humano, pelo menos na sociedade. Pois, na busca pela calmaria nos isolamos e não ousamos....
Aconselho que leiam um livro maravilhoso chamado " tête-à-tête" e aqui embaixo um texto que eu amo que define a relação incrível destes dois:

"Amor libertário é amor incondicional, outrora é amor possessivo.


Simone e Sartre construíram a mais bela lenda filosófica de amor de todos os tempos. Embalados na elevação intelectual, essa relação durou cinqüenta anos, essencialmente definida em termos de liberdade e transparência.
Entre o dualismo Kantiano de verdades necessárias e verdades contingentes, Sartre afirmava que o amor entre eles era um amor necessário, convindo que conhecessem amores contingentes, ao passo que, acredito de fato, somente os tornavam mais unidos em seus emaranhados de eternas conquistas e companheirismo nas superações intelectuais.
Nos apelos da sociedade moderna, seguimos a olhos cerrados um amontoado de preceitos pouco dialéticos, cujos ditos por moral e aceitação social, nos deixando à mercê do esquecimento sobre os verdadeiros valores que nos tocam.
O verdadeiro amor não é moral e sim ético, o mesmo existe em liberdade, com maturidade suficiente para evitar os desgastes que reduzem a existência em possessividade."



Um comentário:

  1. Acho que isso - se for verdadeiro - se justifica pelos nossos condicionamentos historicos e geneticos. Mas continue na sua essencia que tem homens que detestam mulher burra, a nao ser pra dar uma zoada sem compromisso e adoram mulher inteligente pra sair, se divertir e conversar. Mas não pode se esquecer dos condicionamentos a que somos submetidos. No meu caso, honestamente, só consigo manter um relacionamento com uma mulher fisicamente bela (para os meus padrões... há vários por aí). Ou seja, é condição sine qua non. O que talvez explique um pouco a situação: mulheres inteligentes não ficam só se embelezando ou malhando o bumbum e, normalmente, nesse quesito, deixam a desejar. A questão é profunda e merece um engradado de cerveja.

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