Às vezes queria
entender porque é tão difícil reproduzirmos nossas belas teorias sobre relacionamento
na vida prática. Falamos tanto de mudança de paradigmas, onde se busca numa relação
um grau de igualdade... Mas nas primeiras chances de possibilidade de um relacionamento
realmente igualitário, acabamos por reproduzir uma postura até machista ou pelo
menos um tanto antiquada. Tenho a impressão às vezes que a nossa educação
machista está tão enraizada, tão dentro de nosso subconsciente que é justamente
nestes momentos cruciais que ela aparece. E mesmo que a gente perceba tal
situação, é como se se travássemos uma guerra interna entre o certo,
efetivamente certo que nos leva a uma felicidade real, pelo certo social dentro
da mente humana. É só se apaixonar por qualquer situação que saia da dita
normalidade social... Além de guerrear contra uma sociedade que não permite
mudanças nem questionamentos, a pessoa deve travar uma guerra interna... O que
normalmente não faz... Porque dá trabalho, porque esgota... porque enlouquece.
Os conflitos interiores são muito piores dos que os externos... Acredito que muitas
vezes as pessoas não enfrentam a sociedade porque simplesmente antes tem de enfrentar
a si mesmo... Quando se está bem resolvido com tais questões... A sociedade é
mole. Mas se desafiar, quebrar estereótipos construídos desde a mais tenra infância?
Ousar a fazer um processo de desconstrução interna? Até que ponto a sanidade
humana consegue isso...
Acho que muito dos
nossos medos não são sociais, mas sim deste processo de desconstrução... É
claro que tais enraizamentos foram colocados no ser humano pela sociedade... Mas
foi um processo longo... Porque desde que o ser humano nasce o atolamos de
conceitos de como ele deve viver... Como ele deve amar. Porque o amar não implica necessariamente o
amar no sentido relação de duas pessoas... Mas o saber amar nos faz ter uma
visão ampla do mundo... E é o que leva as grandes transformações... E o que o fazer quando o amar não se encaixa
nas caixas criadas pelo sistema na nossa consciência? O que fazer quando o
sentimento não entra em tais caixas... A primeira tentativa é mudar o outro... Mudar
o outro para que ele possa entrar nas caixas... E consequentemente acabamos por
matar o amor, o deslumbramento, a admiração... Porque o que despertou o amor
foi exatamente o fato dele não poder entrar nas caixas...
O ser humano deveria constantemente
passar por uma processo de desconstrução e construção. Mas isso é doloroso, da
medo e o que vemos é que quando a vida nos coloca numa situação dessa a nossa tendência
é fugir...fugimos dos amores complicados, dos amores não controláveis, fugimos
daqueles que são impetuosos e ousam seguir seus sonhos. E nos apegamos àqueles
que vão nos dar calmaria e paz... Como se amor pudesse ser calmaria e paz... Fugimos
daqueles que não se encaixam no estereótipo de príncipe encantado ou de
princesa submissa... E mesmo nas relações homo afetivas acabamos por procurar
os mesmos estereótipos...
Acho que a sociedade
faz um trabalho constante de nos fazer acreditar que o normal não é mais
normal... Amamos as histórias de amor com mocinhas impetuosas e
questionadoras... Amamos os revolucionários que mudaram o mundo... Mas de fato
será que ficaríamos com a mocinha que vai te questionar e discutir o tempo
todo? Que vai a cada discussão de ideia te provocar a ponto de não existir hierarquia. Ou preferimos no intimo aquela que não vai
jamais demonstrar mais conhecimento ou bater de frente... Amamos os homens
corajosos e revolucionários... Mas de fato será que aceitaríamos viver na inconstância
de alguém que prefere mudar o mundo a ter a estabilidade do dinheiro no banco
no início do mês...
Será que amamos mesmo, ou
apenas criamos a ilusão do amor já que em nossa sociedade você só é feliz se
ama e possui o objeto amado... Porque até nossa noção de amor passa muito longe
da liberdade dos livros... É mais um processo de escravidão e dominação do
objeto amado... E amor é angustia e liberdade